domingo, 6 de março de 2011

Infância à venda!

*A Pauta*

Passaram por mim, descendo do ônibus, uma garota, de uns 7 anos, e sua avó. As roupas da menina, porém, não tinham nada de infantil, e antes de descerem do ônibus ouvi ela perguntar: “Vó, minha maquiagem já saiu? Ainda tô com a sombra?”.


*O Ponto*

Eu já fui uma menina de 7 anos. E como a maioria delas, eu ficava extremamente agitada quando ganhava uma “pintura” (como eu chamava na época). Era tão adulto! Usar maquiagem aos 7 anos era emocionante, era “adulto” e não era sério. Fazia parte da brincadeira, como era brincar de casinha ou de qualquer outra coisa.

Não sei se era esse o caso da garotinha no ônibus, mas o que me espanta hoje é ver que meninas de 7, 8 anos já não gostam de ser chamadas de crianças, frequentam salão e gastam tempo e dinheiro preocupadas com a própria imagem.

Fiquei pensando sobre isso, essa onda de “vaidade infantil”, e como ela também pegou os meninos. Claro que na minha infância já havia um ou outro garoto mais preocupado com o visual, mas no geral os meninos eram conhecidos por não se preocuparem com nada. Hoje, é normal encontrar meninos de 9 anos usando brinco, cortes de cabelo da moda e extremamente preocupados com o visual.

As crianças parecem viver cada vez menos a infância. Toda essa vaidade, preocupação com o visual e a imagem que os outros têm de nós, costumava ser algo que só começava na adolescência. Refletindo sobre isso, lembrei de um documentário que assisti faz um tempo aqui mesmo na internet. O filme chama “Criança, a alma do negócio” e fala sobre como a “redução” da infância cria mais consumidores, não só consumidores de artigos de primeira necessidade – comida, material escolar, lazer -, mas consumidores cheios de vontades e opiniões. (Abaixo você pode assistir a primeira parte do documentário. Ele está divido em seis partes, que você pode encontrar no youtube).


Faz bastante sentido, não é? Adolescentes são influenciáveis, parecem ter cada vez mais poder aquisitivo e costumam ter muito tempo livre (a maioria ainda não precisa se preocupar com trabalho e contas a pagar). Isso faz deles os consumidores dos sonhos do nosso sistema capitalista.

Isso tudo não é novidade. Quero dizer, há 15 anos uma lancheira já era mais do que uma simples bolsa para levar lanche para a escola, era também uma competição de quem tinha a mais recente, “da moda”, do melhor personagem. Arrisco a dizer que já bem antes dos anos 90 produtos temáticos vendiam mais e as crianças eram alvo fácil da publicidade. Mas não dá para negar que as coisas têm piorado, ou, tentando não julgar, têm ficado mais “intensas”. A TV ainda tem uma grande influência, mas ela ganhou uma poderosa companheira no computador. A internet serve muito bem para potencializar o consumista que existe em todos nós. Veja o filme! Navegue no site! E, claro, compre o produto!

Sinceramente, para que ficar falando das crianças quando eu posso perguntar: será que eu preciso mesmo daquele novo modelo de celular que só falta lavar a louça, de tão completo, e que eu fiquei morrendo de vontade de ter depois de ver tantas propagandas? No final, parece, somos todos “crianças”.

Um comentário:

  1. Crianças exageradamente vaidosas e consumistas me assustam, mas eu tenho mais medo do tipo de adulto que elas vão se tornar (ou já se tornaram).
    E, claro, o nosso próprio comportamento precisa de nossa obervação atenta e constante para não se aproximar ao dessas crianças mimadas e impulsivas, que deixam se convencer pela opinião dos outros, ou pior, pela publicidade.

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